Como é do conhecimento geral, uma das atribuições dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS), além da captação, adução, tratamento e distribuição de água para consumo público, é a recolha, drenagem, tratamento e destino final das águas residuais urbanas.
Esta responsabilidade foi atribuída por deliberação da Câmara Municipal de Ponta Delgada apenas em 1983, com um desfasamento temporal relativamente ao restante território nacional.
Esta realidade encontra explicação no contexto geológico da ilha de São Miguel, que historicamente permitiu a adoção de sistemas de drenagem simplificados, baseados em infraestruturas unifamiliares, com eficácia funcional aceitável.
Com a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, e à luz das diretivas comunitárias em vigor, tornou-se imperativo adotar soluções de drenagem coletiva, especialmente em aglomerados populacionais superiores a 2 000 habitantes equivalentes, conforme estipulado pela Diretiva 91/271/CEE, transposta para o ordenamento jurídico nacional pelo Decreto-Lei n.º 152/97, de 19 de junho.
Face à crescente exigência legal e ambiental, os SMAS iniciaram, em novembro de 1983, um dos seus projetos mais ambiciosos, com o objetivo de assegurar a cobertura integral das freguesias urbanas da cidade de Ponta Delgada por coletores públicos de águas residuais.
Apesar dos esforços desenvolvidos, a taxa de adesão ao sistema público de drenagem por parte dos munícipes tem sido inferior ao expectável. Esta situação deve-se, em grande parte, ao investimento necessário para a ligação das redes prediais aos ramais públicos, enquanto os sistemas privativos continuam a operar com impacto ambiental significativo.
Para além da intervenção na cidade, os SMAS foram pioneiros na resolução dos problemas ambientais da bacia hidrográfica das Sete Cidades. Entre 1986 e 1990, foi concretizada a cobertura integral da freguesia, com plena adesão da população, o que permitiu a remoção das águas residuais domésticas da Lagoa das Sete Cidades, conduzindo-as, através do túnel de descarga, até à freguesia dos Mosteiros. Esta tornou-se a primeira freguesia do concelho a dispor de rede pública de drenagem de águas residuais.
Na freguesia de Mosteiros, além de assegurar o tratamento adequado das águas residuais provenientes das Sete Cidades, os SMAS intervieram na mitigação da poluição da Praia dos Mosteiros, obra concluída com sucesso em 2010.
Com o objetivo de alargar a cobertura da rede pública de saneamento às freguesias que dela ainda carecem, os SMAS desenvolveram o projeto de execução para a freguesia da Relva, concluído em 2021, e o projeto de execução para a freguesia da Fajã de Baixo, cuja finalização está prevista a médio prazo.
Também em 2021, foi realizada a instalação do sistema elevatório de Santa Clara e da estação elevatória da Vila Nova, incluindo ainda a reabilitação da estação elevatória do Cais da Sardinha, obra concluída em 2024.
Tal obra tornou-se necessária na sequência das obras de construção do complexo das Portas do Mar, levado a cabo pelo Governo Regional, que inviabilizou o aproveitamento integral da Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) da Pranchinha, projetada para servir a totalidade da área urbana da Cidade bem como de parte dos seus arredores.
Como corolário desta situação, os SMAS terão que assegurar a construção de uma nova ETAR na zona da Nordela, tendo para tal adquirido o terreno necessário, cujo custo de investimento se estima em cerca de 10 milhões de euros, concebida para aumentar significativamente a capacidade de tratamento, melhorar a eficiência energética e garantir o cumprimento das normas ambientais mais exigentes, nomeadamente as previstas no Decreto-Lei n.º 119/2019 e no Decreto-Lei n.º 16/2021.
Esta nova legislação estabelece o regime jurídico da produção e reutilização de água obtida a partir do tratamento de águas residuais, promovendo a economia circular e a adaptação às alterações climáticas.
O valor do investimento referido impossibilita os SMAS de assegurarem a sua construção, sem apoio financeiro, quer da parte do Governo Regional, quer da parte da União Europeia, estando neste momento num impasse devido à falta de consciencialização da primordial importância de tal obra, no contexto dos Açores, por parte dos decisores políticos acima referidos.
Atualmente, o número de consumidores ligados à rede pública ascende a 11 117, representando um crescimento de cerca de 108% nos últimos 14 anos. Este indicador reflete o esforço contínuo dos SMAS na expansão e modernização do sistema de saneamento básico, garantindo o acesso à rede pública a um número cada vez maior de munícipes.